26/09/2006

Nota de esclarecimento

No tocante às últimas entrevistas publicadas nesse blog, deve-se esclarecer que:
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1. Aqueles que tiveram, de algum modo, seu nome citado, foram convidados a usar desse espaço para as devidas respostas. Até o presente, porém, preferiram não se manifestar. Entretanto, poderão fazê-lo, a qualquer tempo;
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2. O blog Jornalismo Paraibano não tem vínculos com qualquer ente externo, quer sejam entrevistados, quer sejam empresas jornalísticas. O responsável pelo blog é estudante do 3° ano da Faculdade de Jornalismo da UEPB. Caso venha a, em algum momento, adquirir vínculo empregatício com alguma empresa do setor, imediatamente se desligará do Jornalismo Paraibano, passando o canal para outrem que possa dar prosseguimento aos trabalhos;
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3. Não é objetivo do blog ofender, denegrir ou atacar ninguém, independente de quem seja. Aqui, todos serão tratados com a igualdade de expressão. Existe uma mentalidade vergonhosa, obsoleta e covarde no setor, de se procurar enquadrar o jornalista em um dos lados de qualquer tema abordado. Portanto, fique claro: NÃO ESTAMOS DO LADO DE NINGUÉM;
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4. Esperamos que haja maturidade por parte daqueles que fazem o Jornalismo nessa terra, patrões e empregados, possibilitando a abertura de um diálogo deveras franco, amplo e profundo, para que caminhemos rumo a um processo de crescimento do nosso Jornalismo. Caso contrário, permanecerá imutável a presente realidade, conhecida, lamentada e sofrida por todos.
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Campina Grande, PB - 26 de setembro de 2006
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Lenildo Ferreira

22/09/2006

Entrevista: Rômulo Azevedo

"Até hoje não sei por que fui demitido"
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Quando Rômulo Azevedo chegou à TV Paraíba, em dezembro de 1986, a emissora ainda nem estava no ar, o que aconteceria nos primeiros minutos do ano seguinte. Cerca de três meses depois, assumiria o cargo de editor-chefe, onde permaneceu por duas décadas, até que, em julho último, foi demitido. Por algumas horas esteve desempregado da televisão, sendo “apenas” o professor Rômulo, chefe do Departamento de Comunicação da UEPB. Mas, aos 53 anos, o jornalista já tem pela frente um novo desafio: dar vida a outra televisão. E continuar a escrever sua história de pioneiro do telejornalismo paraibano.

JORNALISMO PARAIBANO: A TV Paraíba é uma mera sucursal da Cabo Branco, como dizem alguns?

Em certo sentido, sim. No início as emissoras tinham donos diferentes. Depois, a TV Paraíba comprou a Cabo Branco. Isso não foi bom para a emissora de Campina, porque todas as decisões passaram a se concentrar na capital. Então começou a existir um certo desprezo – não sei se a palavra seria essa – pelo interior. Por exemplo, no JPB Primeira Edição e no Bom Dia, Paraíba, que são exibidos em rede, qualquer problema de estouro de tempo, a primeira ordem do editor é para cortar o material de Campina, mesmo que esse material tenha peso jornalístico.

JP: Se existe tal problema com Campina Grande, como ficam as outras cidades do interior nessa grade?

A TV Paraíba cobre 80% do território estadual, e tem um número de espectadores maior. Mas os 20% que a TV Cabo Branco cobre dão maior retorno financeiro, porque é uma área mais rica. Isso, em boa parte, faz com que os espectadores do interior fiquem prejudicados.

Isso ocorre porque, em primeiro lugar, os proprietários da televisão não têm origem nesse meio, são pessoas da indústria do café que um dia resolveram investir em comunicação, em televisão e jornal, mas não conhecem a atividade. Além disso, as duas emissoras são chefiadas por um carioca, um executivo competente, mas que desconhece completamente a nossa realidade. Então eles dirigem a televisão como se fosse um almoxarifado. O negócio é dar lucro. E o Jornalismo da TV também é dirigido por uma carioca (Ana Viana), que igualmente desconhece nossa realidade. Ela, inclusive, chegou a me dizer que o local mais longe que conhecia depois do Rio de Janeiro era Juiz de Fora, uma cidade que fica a 80 quilômetros do Rio. Essa pessoa dirige o Jornalismo das duas emissoras.

JP: Após a saída por motivos de doença de Erialdo Pereira, houve constantes mudanças no cargo editor regional das TVs Paraíba/Cabo Branco. Quanto isso afeta o trabalho nas emissoras?

No lugar do Erialdo entrou primeiramente o Luís Augusto Pires Batista, um paulista que entendeu a grandeza e o potencial de Campina Grande, e que por isso fez com que nós passássemos a ter participação no JPB Primeira Edição, assim como no Bom Dia, Paraíba. Foi uma administração muito benéfica para Campina, um dos raros momentos em que tivemos autonomia editorial. Mas, infelizmente, ele acabou sendo convocado para dirigir a Rede Amazônica e, em seu lugar, entrou o José Emanuel Torres, ex-editor da Globo Recife, que voltou com a mesma política de desvalorização do interior. Durou apenas quatro meses, devido a uma briga com o editor de João Pessoa, Sílvio Osias, e acabou demitido. Assim entrou a carioca Ana Viana.
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O problema é como já falei. Os donos da empresa não entendem de televisão. Então entregam o cargo a pessoas que, presumivelmente, entendem da coisa. É verdade que são profissionais que realmente têm entendimento de sua área, são competentes, mas não conhecem a Paraíba, e eu entendo que é preciso conhecer, pois como é que eu vou pautar uma matéria sobre um estado que desconheço totalmente? Como eu posso desprezar uma cidade como Campina Grande, a segunda do estado, que em muitos fatores compete com a capital? Aliás, uma cidade que ensinou a Paraíba a ver televisão, pois a primeira TV do estado é a TV Borborema, que entrou no ar em novembro de 1963, quando apenas mais de 23 anos depois João Pessoa teria sua emissora. Então, o que é que João Pessoa tem a nos ensinar sobre televisão? Nada. A coisa começou aqui.

JP: Como era o seu relacionamento cotidiano com a editoria-chefe da capital?

Era um relacionamento amistoso, por sermos colegas de trabalho, mas, ao mesmo tempo, conflituoso. Eu, todos os dias quando ia editar a primeira edição, pela manhã, precisava brigar, porque eles queriam tirar espaço de Campina Grande. Então eu brigava para que a cidade entrasse e com o destaque que merece. Por isso, toda a vez havia uma briga com algum editor de lá.

JP: Por que você foi demitido?

Até hoje eu não sei por que fui demitido. A explicação que o empresário Eduardo Carlos me deu foi que ia chegar uma concorrência pesada, com a instalação de novas emissoras em Campina Grande, e eles precisavam reforçar o quadro, por isso estavam me tirando da empresa. Eu não entendi.

JP: Então você está profissionalmente obsoleto? Era um ponto fraco na empresa?

Quando saí de lá o jornal que eu dirigia estava dando 75 pontos no Ibope, o que quer dizer que, de cada 100 televisores ligados, 75 estavam vendo o JPB. Então, critério de incompetência não foi, porque esse é um índice difícil de se conseguir, mesmo na Globo.

O fato é que nesse episódio só tive uma decepção. Na quarta-feira, 19 de julho, fui chamado à TV Paraíba pela manhã. Não sabia do que se tratava. Ao chegar, encontrei a editora regional, Ana Viana, e o Eduardo Carlos. Houve uma reunião, onde o Eduardo me fez vários elogios, disse que meu trabalho era inestimável, que todos reconheciam que eu havia montado a estrutura de jornalismo da emissora, contribuindo também com a TV Cabo Branco e o Jornal da Paraíba... Mas, infelizmente, eu teria que ser demitido. Até aí, tudo bem, isso é coisa de empresa, um fato normal. A decepção maior foi o seguinte: O Eduardo me falou: “Rômulo, fique tranqüilo. Pela contribuição que você nos deu, vamos lhe oferecer uma indenização diferenciada, não apenas o que é de direito pela Lei, mas um valor que vamos acrescentar, assim como fizemos com o Erialdo Pereira. Façamos o seguinte: Você vai pensar nesse valor, de quanto acredita que deveria ser e, segunda-feira, vá na Cabo Branco para discutirmos essa compensação”. Na reunião com o grupo de jornalistas da TV Paraíba, quando foi anunciada minha demissão, ele reafirmou esse compromisso. Mas, no dia marcado, fui até João Pessoa e, quando cheguei lá, o Eduardo falou um tempão, não me deixou falar nada, e depois completou: “Você vai receber a quantia que a Lei estabelece e a empresa pode lhe dar um vale de R$ 6 mil para que compre um carro usado na loja do nosso grupo”.

É lógico que eu não aceitei. Achei uma afronta, uma indelicadeza, uma falta de respeito, ainda mais para com uma pessoa que passou 20 anos trabalhando vários sábados, domingos e feriados, sem nunca cobrar uma hora-extra. Quantas madrugadas não varei, em tempos de eleição, para editar material que iria ao ar no Bom Dia, Paraíba? Mas isso não foi reconhecido. Na verdade, fui enganado.
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JP: Quais suas perspectivas para o futuro da TV Paraíba, agora com Carlos Siqueira como editor-chefe?
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Antes de mais nada eu desejo boa sorte para todos eles porque, nos últimos 27 anos, quem se formou em Jornalismo em Campina Grande, foi aluno de Rômulo Azevedo. O Carlos Siqueira é um ex-aluno meu, um ex-comandado meu, e espero que ele tenha sucesso nessa missão, que não é fácil. Agora, quanto ao futuro da TV Paraíba eu já não sei, pois, com a concorrência que está chegando (TV Itararé e TV Piemont), ou a emissora dá a assistência que Campina Grande merece, ou ela vai perder audiência.
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JP: E Como está o seu futuro na televisão?

Quero agradecer ao empresário e médico Dalton Gadelha, pois no dia em que saí da TV Paraíba fui convidado por ele para uma conversa onde, no fim, assumi a direção de programação TV Itararé (Canal 19), que entrará no ar nos próximos dias. Na verdade, eu pretendia dar um tempo da televisão, que é um trabalho muito árduo, mas sempre tive um sonho de fazer uma televisão educativa, diferenciada. Já levei o Polion para lá, vamos lançar um jornal, o Itararé Notícias. Mais uma vez vou dar minha modesta contribuição na implantação de uma emissora de TV. E espero que tenha longa vida.
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LeNildo Ferreira
(Agradecimentos ao grande professor Fernando Milanni pelas fotos)

16/09/2006

Morib responde comentários

Em tom cordial, o jornalista Morib Macedo respondeu, na seção de comentários, as afirmações de alguns internautas sobre suas declarações quanto à liberdade de trabalho no Sistema Correio, em entrevista publicada no dia 07 de setembro deste ano. Abaixo, segue na íntegra a reprodução do comentário.
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"Caros amigos. Fico sinceramente feliz pelas repercussões, afinal se houve desdobramentos, positivos ou não, o fato é que minhas humildes palavras trouxeram alguma novidade e conteúdo. No entanto, acho que não fui fielmente interpretado sobre a linha editorial do veículo. Em nenhum instante, eu disse que os nossos jornais paraibanos sao imparciais. Até porque, a maturidade profissional vai ensinar a vocês que imparcialidade tem um conceito muito mais abstrato do que a gente imagina. Apesar disso, todos nós leitores estamos carecas de saber que infelizmente, nossos veículos impressos, há alguns anos vêm vestindo as camisas dos grupos políticos. Isso é incontestável. Mas o que disse é que no nosso caso( enquanto equipe de TV)nunca tivemos a atividade jornalística tolhida por alguma ordem superior. Temos liberdade sim, pois até então no nosso caso, repito, nunca se provou o contrário. Um abraço a todos e espero que não me entendam mal, hein!!!"
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Atenc. Morib Macedo

14/09/2006

Entrevista: POLION ARAÚJO

“Fui um empregado do grupo e sempre tive a consciência de que um dia teria de ser demitido ou pedir demissão”
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Durante 15 anos Polion Araújo esteve na bancada do JPB 2ª Edição. Com seu aspecto tranqüilo, sorriso simpático, tornou-se uma figura conhecida e respeitada em toda a cidade. Nada mais natural, portanto, que a surpresa geral provocada por sua saída. Mas o próprio Polion não se diz surpreso. Humilde e sereno, entende que esse é um fato natural na realidade de uma empresa: um dia a relação tem que acabar. Aos 38 anos, cursando Gestão de Negócios, e atuando na área de publicidade e marketing, além de trabalhar na Radio Cidade AM, o radialista conversa francamente sobre as recentes mudanças na TV Paraíba, inclusive a saída do editor-chefe Rômulo Azevedo.
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Jornalismo Paraibano: Você sempre conciliou o trabalho na TV e no rádio. São duas paixões?
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A comunicação em si é uma paixão, pois é uma área, uma ciência onde todos os profissionais deveriam ter um mínimo de conhecimento para poder se destacar na sua área de atuação, seja ela qual for, engenharia, medicina, psicologia, enfim, é preciso comunicação para poder dar uma entrevista, saber se relacionar melhor com o seu publico interno e externo, apresentar melhor o seu trabalho ao mundo.
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JP: Quando você começou a trabalhar na TV Paraíba? Como foi esse início?
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Bem, comecei a trabalhar em comunicação no Rádio, na Campina Grande FM, estagiando em 1986/87, com ‘seu’ Hilton Mota. Depois do estágio, acabei sendo contratado pela Radio Correio FM, onde permaneci por quase 3 anos e na TV Paraíba comecei em maio de 1988 e fui contratado 4 meses depois como repórter de rua. Na época estava à frente do jornalismo da TV Erialdo Pereira, em João Pessoa e, em Campina Grande, Levi Soares, Cidoval Morais e Rômulo Azevedo, uma turma muito boa, conhecedora do jornalismo sério e que ensinava o jornalismo a gente na prática. Depois passei a apresentar o JPB 2º Edição, cargo que exerci durante os últimos 15 anos.
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JP: Desde quando se percebeu que haveria mudanças drásticas na TV Paraíba?
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Não considero mudanças drásticas. Pra mim foi um processo natural e deve ser encarado assim por todos. O que ocorreu na realidade foi uma mudança na cultura interna da empresa, decidida pela cúpula e que deve ser absolvida da melhor forma pelo grupo como um todo. Não entrou ninguém de fora da equipe, apenas pessoas, mudaram de função e outras foram promovidas e outras demitidas, o que é normal numa empresa.
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A TV Paraíba, desde o afastamento de Erialdo Pereira por problemas de saúde, passou a ter uma rotatividade muito grande no cargo de editor regional e isso não foi bom nem pro jornalismo da empresa, nem para maioria da equipe, uns sentiram dificuldades e um outro viu a oportunidade de crescer na empresa e aproveitou essa chance, passando por cima de uns e puxando o tapete de outros, o que também é natural, toda empresa tem gente desse tipo. Aquela velha máxima: Quer conhecer realmente uma pessoa, coloque em suas mãos poder e/ou dinheiro. Foi o que aconteceu.
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JP: Como a saída de Rômulo Azevedo foi recebida na empresa, e por você em particular?
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Para a equipe de Campina Grande foi uma surpresa, muita gente chorou durante o comunicado, lamentando o afastamento de Rômulo que sempre foi um cara muito leal e correto com todo mundo que trabalhava com ele. Acho que o mal dele foi sempre ser sincero demais em suas opiniões e nem todo mundo gosta de receber criticas ou ser chamado atenção quando o trabalho não está bom e isso Rômulo sempre fez, comigo e com todos que trabalhavam com ele, esse era o seu papel.
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A questão é que algumas pessoas não entendem que o fato delas aparecerem na televisão todo dia, com um espaço e um microfone na mão, não as transformam em imortais nem em palmatória do mundo, somos na realidade pessoas comuns, realizando uma prestação de serviço ao público, não estamos acima do bem e do mal. Erramos e acertamos como qualquer pessoa, somos trabalhadores, empregados e quando chegar o momento todos serão demitidos também, o que é normal.A saída de Rômulo pra mim, assim como a minha saída, sempre foi uma coisa previsível, e quem conhece a gente de perto sabia disso, pra mim não foi nenhuma surpresa.
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JP: Rômulo estava profissionalmente obsoleto?
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De forma alguma. Jornalista que é jornalista jamais fica obsoleto, ele é como vinho, fica melhor. E Rômulo Azevedo é uma safra especial. É um cara que ensinou e ensina jornalismo a todos os que estão no mercado atualmente e os que passaram pela UEPB. Ele tem uma formação muito ampla, é formado em Direito, estudou anos no Rio de Janeiro e tem uma visão de mundo muito abrangente, lê muito e de tudo. E isso é dele e que só quem convive com ele tem o prazer de ter essas descobertas a cada dia como colega de trabalho e como amigo.
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Obsoletos talvez estejam os dirigentes da TV Paraíba em dispensar um profissional da categoria de Rômulo. Os proprietários da TV Paraíba são oriundos da indústria do café e administrar uma emissora é diferente, você não lida com operários, que realizam tarefas repetitivas, lida com pessoas formadoras de opinião, com conhecimento, inteligência e cultura, e isso Rômulo Azevedo tem de sobra e ninguém, só Deus pode tomar dele.
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JP: A partir de que momento você percebeu que também seria demitido?
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Sempre fui um empregado do grupo e sempre tive a consciência de que um dia teria de ser demitido ou pedir demissão, como todos que estão lá agora, ou em qualquer outra empresa um dia também irão passar pelo mesmo processo.
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JP: Por que você foi demitido?
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Como você mesmo falou quando contactou comigo “...cresci te vendo na bancada do JPB”, eu cresci fazendo o JPB, foram 18 anos seguidos, entrei lá aos 19 anos de idade, saindo da adolescência, o tempo passa, a gente amadurece e chega um momento em que a relação empresa x colaborador vai se desgastando. Acho que eu e TV cumprimos a nossa missão um para o outro.
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JP: Essa política de demissões vai levar a um crescimento da qualidade do jornalismo da TV Paraíba, ou seriam mais efetivos investimentos em equipamentos e contratação de novos profissionais?
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A TV tem uma excelente equipe de profissionais. É preciso investir em conhecimento, mandar essa turma aprender mais lá fora, fazer cursos, conhecer o mundo, obviamente é preciso o esforço individual de cada colaborador, mas é preciso que a empresa estimule o pessoal oferecendo cursos, pagando melhores salários e oportunidades de crescimento. Fazendo isso a qualidade é uma conseqüência, é o retorno do investimento. Belos edifícios e equipamentos qualquer empresário com dinheiro consegue, mas o maior patrimônio da empresa é o seu pessoal.
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JP: A TV Paraíba nasceu antes da TV Cabo Branco. Mas, segundo pessoas do meio, a televisão campinense tornou-se uma espécie de mera sucursal de João Pessoa. Qual sua avaliação sobre isso?
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É uma meia verdade. Mas, acredito muito em Campina Grande e não podemos ter como parâmetro as ações dessa ou daquela TV para generalizar um seguimento empresarial e profissional, acho que só o tempo poderá revelar a verdade e quem está com a razão. A televisão aqui foi pioneira e o povo daqui tem uma força, é um povo guerreiro, morre lutando. Campina Grande tem o que a gente chama de carisma, em tudo.

JP: Além do rádio, qual o seu futuro profissional?
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Estou concluindo Gestão de Negócios no próximo ano, pretendo fazer um MBA fora, passar um tempo fora do país aprimorando meu inglês e estudando, manter minhas atividades empresariais aqui, enfim, planos não faltam. Sou uma pessoa que acredita muito em Deus e coloco-o a frente de tudo que faço e peço sempre que a vontade dele seja cumprida, no seu tempo, no seu momento.
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LeNildo Ferreira

07/09/2006

ENTREVISTA COM MORIB MACEDO

"Procuro dissociar o jornalista do
profissional de marketing eleitoral"
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Na última terça-feira, publicamos texto sobre a participação de jornalistas em campanhas eleitorais. A respeito desse polêmico tema, o blog JP entrevistou Morib Macedo. O jornalista, 31 anos, formado na UEPB, atualmente trabalha na TV Correio e, nessas eleições, presta serviços à agência que dirige a campanha de um dos candidatos ao Governo do Estado. Na entrevista, Morib falou também sobre a orientação do Sistema Correio em relação à política.

JORNALISMO PARAIBANO: Você trabalha na TV Correio. Houve alguma oposição quanto a trabalhar na campanha eleitoral?
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MORIB MACEDO: Essa é uma pergunta bem pertinente e freqüente em todos os ambientes por onde passo. De fato, é natural que o grande público estranhe o fato de um jornalista do Sistema Correio trabalhar numa campanha de seu principal opositor (pelo menos em tese).
Na verdade, desde o meu ingresso no sistema, tenho tido um tratamento super humano e respeitoso por parte da sua direção. Em nenhum instante foi dito a mim, ou a qualquer integrante da emissora, que não exerce necessariamente o gênero opinativo, que tínhamos que falar bem ou mal sobre determinado grupo político.
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Sempre que alguém é contratado, o que se pede é um trabalho sério e voltado para a comunidade. De forma que temos liberdade de fazer matérias "contra" o governo federal, estadual ou municipal, desde que seja em favor dos interesses comunitários.
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Sobre a liberação, mais uma vez eles foram muito cordiais comigo. Deram-me uma licença de 60 dias e me deixaram por demais lisonjeado ao afirmarem que não seria uma campanha eleitoral que me tiraria da casa. Enfim, atitudes como essa, deixam-me extremamente feliz, pois acho que é assim que se deve tratar um profissional de comunicação quando ele recebe oportunidades raras de se ganhar uma boa grana.
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JP: Você acha possível conciliar a prática do Jornalismo com a prestação de serviços que envolvam política partidária?
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É bastante difícil, sim. Sobretudo em um estado pequeno e numa cidade demasiadamente apaixonada (por política e futebol). As pessoas raramente compreendem as diferenças entre essas funções. Como eu priorizei outras nuances em minha área, achei por bem embarcar no marketing eleitoral desde 2002. Vivenciei momentos distintos em outros estados como Pernambuco e Rio Grande do Norte. Lá, onde não sou conhecido, fiz programas estaduais e depois campanhas municipais.
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Já em Campina, no segundo turno das eleições 2004, já havia feito campanha com a Mix, daí o convite renovado agora pra 2006. Os compromissos familiares também me fizeram rejeitar as possibilidades de ir para outros estados, preferindo ficar na terrinha, mesmo enfrentando o preconceito de algumas pessoas. Voltando ao tema central, procuro dissociar bem o jornalista do profissional de marketing eleitoral.
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No meu programa de rádio nunca deixei transparecer minhas preferências políticas, religiosas ou futebolísticas, embora ache que, enquanto cidadão, todo jornalista deve ter esse direito, desde que não influencie erroneamente no seu trabalho.
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JP: Tal relação não compromete a ética jornalística? No tocante à credibilidade, uma das mais importantes qualidades do jornalista, esse tipo de relação não acaba também por comprometê-la?
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Depende do profissional. Muitos aqui chegam a misturar as coisas com o exercício de uma simples assessoria política, imagina com o marketing eleitoral! Mas há casos e casos. É preciso sempre separar as situações na hora de produzir matérias no cotidiano jornalístico. Essa, certamente, não é uma tarefa fácil.
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JP: Passadas as eleições, caso fosse pautado a fazer uma matéria que de alguma forma atingisse o candidato em cuja campanha atual você trabalha, haveria como fazê-lo sem quaisquer constrangimentos?
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No meu caso, faria tranquilamente, pois os próprios líderes políticos, sábios que são, devem ter a capacidade de discernir que Jornalismo é uma coisa, assessoria e marketing são outras, bem distintas.
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JP: Qual o seu limite, ou seja, o que você não se dispõe a fazer nesse tipo de atividade?
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Dar depoimentos de cunho particular, opiniões próprias. Aqueles em que um artista ou personalidade declara suas predileções, por exemplo. Agora, mostrar obras em matérias respaldadas também por falas da comunidade, isso faço numa boa, sem constrangimentos.
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JP: A realidade salarial do jornalista paraibano é a principal responsável pela ida desse profissional para o campo de trabalho publicitário, tanto político como comercial? Foi esse seu caso?
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Não necessariamente. Claro que a nossa realidade salarial é uma das piores do País, no entanto as propostas para o marketing político são sempre atraentes e irrecusáveis em qualquer parte do Brasil. Quanto aos salários, acho que vivo bem com eles, graças a Deus. Isso porque exerço diversas atividades para ter uma renda razoável. Já as campanhas se tratam de trabalhos sazonais e bem rentáveis, por isso, do ponto de vista pessoal, acho interessante não perder chances como essa. O legal é não depender só desses momentos da história política.
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LeNildo Ferreira

05/09/2006

JORNALISTAS TRABALHANDO EM CAMPANHA ELEITORAL REABREM DISCUSSÃO SOBRE ÉTICA E REALIDADE

No guia eleitoral desse ano, mais uma vez, assistimos vários colegas jornalistas fazendo apresentação e “reportagens” para candidatos. Esse fato, uma vez proposto para discussão em qualquer ambiente de jornalistas ou estudantes de Jornalismo, acaba inevitavelmente por provocar uma enorme discussão.
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As grandes empresas do ramo do Jornalismo proíbem terminantemente seus profissionais de qualquer participação em campanhas publicitárias, inclusive políticas. A justificativa é de que tais envolvimentos são prejudiciais à credibilidade jornalística. Justificativa sensata.
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Uma breve análise ética aponta, de fato, uma série de problemas oriundos da relação entre Jornalismo e publicidade. Quando se trata de política, então, essa problemática tende a se agravar, por motivos lógicos. Não é preciso muita ponderação para se concluir que, idealmente, o jornalista deve evitar esse tipo de serviço.
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Entretanto, se é fácil estabelecermos um padrão ideal para esse tema, o mesmo não se dá quando confrontamos tal análise com a realidade. Jornalista também tem família, tem contas a pagar no fim do mês. É a ética da barriga, segundo definição do professor Luís Aguiar, coordenador da Faculdade de Comunicação Social da UEPB.
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Na Paraíba, como em grande parte do Brasil, essa é uma profissão que remunera mal. O sujeito precisa, muitas vezes, se desdobrar entre o jornal impresso, o rádio e a televisão, para enfim ter alguma dignidade financeira. E isso sem falar da desleal e imoral concorrência com radialistas formados em cursos de fim de semana. Assim, se é fácil para jornalistas globais com salários de dezenas de milhares de reais cumprir essa faceta ética, não se pode dizer o mesmo aqui nas terras paraibanas.
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Seja como for, essa é uma discussão importante, que precisa ser trazida à pauta, mesmo porque conduz a uma série de outros temas. Para que nossos profissionais possam ser melhor remunerados e, assim, não precisem se ver ante tais dilemas, o Jornalismo paraibano precisa crescer mas, para tanto, tem que encontrar saídas que o possibilitem desvencilhar-se da dependência política que tanto o oprime.
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Enquanto as coisas não mudam, porém, cada um age conforme designa a própria consciência. E, no dilema entre o ideal e o real, vive seu próprio “ser ou não ser”.
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LeNildo Ferreira
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PS: Sobre esse tema, será publicada na próxima quinta-feira, entrevista com Morib Macedo.