14/09/2006

Entrevista: POLION ARAÚJO

“Fui um empregado do grupo e sempre tive a consciência de que um dia teria de ser demitido ou pedir demissão”
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Durante 15 anos Polion Araújo esteve na bancada do JPB 2ª Edição. Com seu aspecto tranqüilo, sorriso simpático, tornou-se uma figura conhecida e respeitada em toda a cidade. Nada mais natural, portanto, que a surpresa geral provocada por sua saída. Mas o próprio Polion não se diz surpreso. Humilde e sereno, entende que esse é um fato natural na realidade de uma empresa: um dia a relação tem que acabar. Aos 38 anos, cursando Gestão de Negócios, e atuando na área de publicidade e marketing, além de trabalhar na Radio Cidade AM, o radialista conversa francamente sobre as recentes mudanças na TV Paraíba, inclusive a saída do editor-chefe Rômulo Azevedo.
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Jornalismo Paraibano: Você sempre conciliou o trabalho na TV e no rádio. São duas paixões?
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A comunicação em si é uma paixão, pois é uma área, uma ciência onde todos os profissionais deveriam ter um mínimo de conhecimento para poder se destacar na sua área de atuação, seja ela qual for, engenharia, medicina, psicologia, enfim, é preciso comunicação para poder dar uma entrevista, saber se relacionar melhor com o seu publico interno e externo, apresentar melhor o seu trabalho ao mundo.
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JP: Quando você começou a trabalhar na TV Paraíba? Como foi esse início?
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Bem, comecei a trabalhar em comunicação no Rádio, na Campina Grande FM, estagiando em 1986/87, com ‘seu’ Hilton Mota. Depois do estágio, acabei sendo contratado pela Radio Correio FM, onde permaneci por quase 3 anos e na TV Paraíba comecei em maio de 1988 e fui contratado 4 meses depois como repórter de rua. Na época estava à frente do jornalismo da TV Erialdo Pereira, em João Pessoa e, em Campina Grande, Levi Soares, Cidoval Morais e Rômulo Azevedo, uma turma muito boa, conhecedora do jornalismo sério e que ensinava o jornalismo a gente na prática. Depois passei a apresentar o JPB 2º Edição, cargo que exerci durante os últimos 15 anos.
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JP: Desde quando se percebeu que haveria mudanças drásticas na TV Paraíba?
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Não considero mudanças drásticas. Pra mim foi um processo natural e deve ser encarado assim por todos. O que ocorreu na realidade foi uma mudança na cultura interna da empresa, decidida pela cúpula e que deve ser absolvida da melhor forma pelo grupo como um todo. Não entrou ninguém de fora da equipe, apenas pessoas, mudaram de função e outras foram promovidas e outras demitidas, o que é normal numa empresa.
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A TV Paraíba, desde o afastamento de Erialdo Pereira por problemas de saúde, passou a ter uma rotatividade muito grande no cargo de editor regional e isso não foi bom nem pro jornalismo da empresa, nem para maioria da equipe, uns sentiram dificuldades e um outro viu a oportunidade de crescer na empresa e aproveitou essa chance, passando por cima de uns e puxando o tapete de outros, o que também é natural, toda empresa tem gente desse tipo. Aquela velha máxima: Quer conhecer realmente uma pessoa, coloque em suas mãos poder e/ou dinheiro. Foi o que aconteceu.
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JP: Como a saída de Rômulo Azevedo foi recebida na empresa, e por você em particular?
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Para a equipe de Campina Grande foi uma surpresa, muita gente chorou durante o comunicado, lamentando o afastamento de Rômulo que sempre foi um cara muito leal e correto com todo mundo que trabalhava com ele. Acho que o mal dele foi sempre ser sincero demais em suas opiniões e nem todo mundo gosta de receber criticas ou ser chamado atenção quando o trabalho não está bom e isso Rômulo sempre fez, comigo e com todos que trabalhavam com ele, esse era o seu papel.
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A questão é que algumas pessoas não entendem que o fato delas aparecerem na televisão todo dia, com um espaço e um microfone na mão, não as transformam em imortais nem em palmatória do mundo, somos na realidade pessoas comuns, realizando uma prestação de serviço ao público, não estamos acima do bem e do mal. Erramos e acertamos como qualquer pessoa, somos trabalhadores, empregados e quando chegar o momento todos serão demitidos também, o que é normal.A saída de Rômulo pra mim, assim como a minha saída, sempre foi uma coisa previsível, e quem conhece a gente de perto sabia disso, pra mim não foi nenhuma surpresa.
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JP: Rômulo estava profissionalmente obsoleto?
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De forma alguma. Jornalista que é jornalista jamais fica obsoleto, ele é como vinho, fica melhor. E Rômulo Azevedo é uma safra especial. É um cara que ensinou e ensina jornalismo a todos os que estão no mercado atualmente e os que passaram pela UEPB. Ele tem uma formação muito ampla, é formado em Direito, estudou anos no Rio de Janeiro e tem uma visão de mundo muito abrangente, lê muito e de tudo. E isso é dele e que só quem convive com ele tem o prazer de ter essas descobertas a cada dia como colega de trabalho e como amigo.
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Obsoletos talvez estejam os dirigentes da TV Paraíba em dispensar um profissional da categoria de Rômulo. Os proprietários da TV Paraíba são oriundos da indústria do café e administrar uma emissora é diferente, você não lida com operários, que realizam tarefas repetitivas, lida com pessoas formadoras de opinião, com conhecimento, inteligência e cultura, e isso Rômulo Azevedo tem de sobra e ninguém, só Deus pode tomar dele.
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JP: A partir de que momento você percebeu que também seria demitido?
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Sempre fui um empregado do grupo e sempre tive a consciência de que um dia teria de ser demitido ou pedir demissão, como todos que estão lá agora, ou em qualquer outra empresa um dia também irão passar pelo mesmo processo.
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JP: Por que você foi demitido?
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Como você mesmo falou quando contactou comigo “...cresci te vendo na bancada do JPB”, eu cresci fazendo o JPB, foram 18 anos seguidos, entrei lá aos 19 anos de idade, saindo da adolescência, o tempo passa, a gente amadurece e chega um momento em que a relação empresa x colaborador vai se desgastando. Acho que eu e TV cumprimos a nossa missão um para o outro.
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JP: Essa política de demissões vai levar a um crescimento da qualidade do jornalismo da TV Paraíba, ou seriam mais efetivos investimentos em equipamentos e contratação de novos profissionais?
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A TV tem uma excelente equipe de profissionais. É preciso investir em conhecimento, mandar essa turma aprender mais lá fora, fazer cursos, conhecer o mundo, obviamente é preciso o esforço individual de cada colaborador, mas é preciso que a empresa estimule o pessoal oferecendo cursos, pagando melhores salários e oportunidades de crescimento. Fazendo isso a qualidade é uma conseqüência, é o retorno do investimento. Belos edifícios e equipamentos qualquer empresário com dinheiro consegue, mas o maior patrimônio da empresa é o seu pessoal.
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JP: A TV Paraíba nasceu antes da TV Cabo Branco. Mas, segundo pessoas do meio, a televisão campinense tornou-se uma espécie de mera sucursal de João Pessoa. Qual sua avaliação sobre isso?
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É uma meia verdade. Mas, acredito muito em Campina Grande e não podemos ter como parâmetro as ações dessa ou daquela TV para generalizar um seguimento empresarial e profissional, acho que só o tempo poderá revelar a verdade e quem está com a razão. A televisão aqui foi pioneira e o povo daqui tem uma força, é um povo guerreiro, morre lutando. Campina Grande tem o que a gente chama de carisma, em tudo.

JP: Além do rádio, qual o seu futuro profissional?
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Estou concluindo Gestão de Negócios no próximo ano, pretendo fazer um MBA fora, passar um tempo fora do país aprimorando meu inglês e estudando, manter minhas atividades empresariais aqui, enfim, planos não faltam. Sou uma pessoa que acredita muito em Deus e coloco-o a frente de tudo que faço e peço sempre que a vontade dele seja cumprida, no seu tempo, no seu momento.
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LeNildo Ferreira

17 comentários:

Márcio S. Sobrinho disse...

Louvável a postura do Polion: corajoso, sóbrio, e sem ressentimentos mesquinhos.

Anônimo disse...

Reconhecer, de forma tranquila, as leis que regem o mercado empresarial no setor de comunicação é uma prova de maturidade para quem é profissional.
Conheço Polion há 20 anos. Ele é muito honesto e amigo, por isso se entristece quando não hajem da mesma forma com ele. Mas, com sua serenidade e profissionalismo ele só tem a ganhar com a experiência. Só é ruim pra gente que deixou de ter um bom apresentador, que expressa, além do profissionalismo, sua humanidade.

Anônimo disse...

Quanto a Rômulo Azevedo, ele é um luxo que nem toda empresa sabe ter.

Anônimo disse...

Não restam dúvidas da coragem e da competência profissional do Polion.Ninguém passa 15 anos à frente de um telejornal por acaso!Depoimentos como esse, somente atestam e denunciam a maneira inescrupulosa e arcaica como os meios de comunicação continuam sendo geridos aqui na Paraíba. Pior ainda,ajudam a revelar o total descomprometimento com a real melhoria da qualidade dos produtos oferecidos.Demitir,definitivamnte, não é a solução!

Anônimo disse...

Sinceramente, eu esperava que o Carlos Siqueira se pronunciasse...

Gilberto Silva disse...

Uma postura a ser copiada.

Paula Theotonio disse...

Ótima entrevista com uma pessoa admirável pela sua ética. Parabéns.

Anônimo disse...

Esperamos que outras pessoas envolvidas nesse tema possam também ter a dignidade de se manifestar.

Anônimo disse...

Conheço Polion e sei do seu caráter admirável, e não tinha e nem nunca vou ter dúvidas da sua ética como profissional. Admiro Polion cada vez mais, uma entrevista muito bonita, muito bem conduzida (Parabéns Lenildo!), com toda a sua sinceridade, respostas cheias de frases de efeito. História do jornalismo Paraibano, assim como Rômulo Azevêdo, lenda viva de Campina, sabe tudo esse homem!!!.
Parabéns Polion, e com certeza ter você como profissional é um Luxo!!.

Givanildo Santos disse...

É comum na universidade (DECOM, como referência) falarmos em ética.
Ética disso, ética daquilo ...
Conceitos e mais conceitos.
Pegue-se o exemplo dessa entrevista (parabéns Nildo) e aplique-se.

Anônimo disse...

Cresci vendo e ouvindo a vóz desse grande profissional. O jpb 2° edição sempre terá a sua cara, inegavelmente. Parabéns e para quem pensa que a tua voz foi abafada se enganou, sempre existe espaços para os grandes talentos. Você é um deles.
Lenildo, o próximo será Rômulo??

Anônimo disse...

Respondendo a pergunta acima, tive uma rápida conversa com Rômulo Azevedo e essa semana procurarei entrevistá-lo. Se tudo correr bem, publico na quinta-feira. Abraços

Anônimo disse...

Não poderia esperar outra atitude de um profissional maduro, competente e extremamente ético como Polion Araújo. A sua diplomacia e crítica erudita são uma lição às estruturas do nosso capitalismo tardio. PARABÉNS PELA SUA ATUAÇÃO E FELICIDADES NOS PLANOS VINDOUROS!

Anônimo disse...

anonimo:

Saber fazer reportagem sincero neste pais, e coisa rara , mas Polion e capaz de fazer como ninguem o faz.Mas os que sabem bajular chefes e ou empresario, que me desculpe...a respósta contra o´mal sempre virá.

Anônimo disse...

Polion tem uma postura madura e sincera. Isso, sem falar na sua "leveza do ser" que o torna um profissional coerente e sem mesquinhez!

Anônimo disse...

Grande entrevista essa do polion. Um profissional serio,humano e sem duvidas,o melhor apresentador da TV local. Lamentavel só é o fato dos bajiladores de plantão puxem o tapete de pessoas como Romulo e polion...

Anônimo disse...

As demissões de Polion e Rômulo,da TV Paraíba, empobrece a programação local e entristece-nos devido a mentalidade arcaica dessa elite parasitária do café. Esperamos que na TV Itararé, filiada a Cultura, eles obtenham êxito em suas novas empreitadas alem é claro de uma maior liberdade para fazerem um jornalismo autênticamente local, que é o que eles sabem fazer e bem feito.